Algumas pessoas quando ouvem que eu tive depressão pós-parto me olham intrigadas e perguntam "Mas por quê?". Na cabeça delas eu sei que provavelmente ocorre o seguinte pensamento: "se a filha dela nasceu saudável, se não teve problema algum na maternidade, se a gravidez foi tranquila e mesmo sem amamentar não faltava leite no peito, por quê ela teve dpp?" Não tento explicar, é difícil entenderem que é doença, depressão é uma doença que precisa de tratamento e que uma pessoa em sã consciência nunca escolheria tê-la.
Eu cheguei a ouvir que existiam situações piores, muito piores que a minha, então eu deveria ser grata por tudo o que Deus me deu. Nada disso ajudava a me sentir melhor, muito pelo contrário, eu sentia uma falta de empatia sem tamanho, como se meus sentimentos fossem nada além de ingratidão, e a sensação de não merecimento de tudo que eu tinha era crescente. Me disseram assim "mas não seria pior se você não tivesse produzido leite?", eu respondo que não, não seria, pelo simples fato de que o meu sentimento era só meu, eu estava sofrendo por ter e ela rejeitar, se ela não rejeitasse e eu não produzisse sofreria de uma forma diferente.
Eu não posso minimizar um sentimento pensando em outro, acredite eu tentei. Na tentativa de me sentir menos culpada, eu pensei em todas as piores possibilidades para a situação, não adiantou, eu estava vivendo o que estava vivendo, precisava me permitir chorar, sofrer, tudo isso fez parte do meu crescimento como pessoa.
Não se minimiza os sentimentos de uma pessoa falando dos problemas dos outros. A minha tristeza não pode ser diminuída de acordo com a tristeza de outra pessoa, não existe parâmetro, não existe padrão. Cada indivíduo é único e isso precisa ser respeitado. Se você acha que não sofreria pelo mesmo motivo do seu próximo, ótimo, mas não tente o impedir de sentir, em vez disso ponha-se no lugar dele(a), isso ajudará, julgar não.
Stefânia Acioli
@tevejomae