"Mas ele é meu pai do coração, meu pai de verdade nem liga pra mim". Fui pega totalmente de surpresa quando um menino de mais ou menos 6 anos me falou isso no parquinho enquanto brincava com outras crianças. Naquela hora eu fiquei sem palavras, não consegui sequer dizer algo para continuar uma conversa. Salva pelo gongo, outra criança o chamou e ele voltou a brincar.
Brincar, essa deveria ser a preocupação dele, a espera por uma ligação não. A espera por uma visita também não. Como fica a cabeça de uma criança que sente-se abandonada pelo pai? Infelizmente não é a primeira vez que me deparo com uma situação dessa. Outro dia o pai ligou na última hora dizendo que não poderia pegar o filho, o mesmo filho que esperou o dia inteiro ansioso, na ocasião a mãe comentou "agora o que eu digo a ele? Como eu digo, mais uma vez, que o pai tem coisas mais importantes para fazer que passar um tempo de qualidade com ele?". Pois é, esse peso também vai para a mãe que fica no meio do fogo cruzado, pisando em ovos para não falar mais do que o filho precisa ouvir, ao mesmo tempo em que vê a frustração no rosto de uma criança que não entende o que fez de errado para não ser querida e amada pelo próprio pai.
Eu gostaria de voltar no tempo e dizer que a culpa não é dele, que o padrasto que o ama e cuida todos os dias é mesmo um pai que o carrega no coração. Eu gostaria que ele soubesse que a mamãe dele o ama, que ela também não entende o porquê das coisas acontecerem como acontecem e que a culpa também não é dela. Eu gostaria que ele soubesse que eu fui criada por duas mulheres, que a minha mamãe não me carregou na barriga, que a minha família também é diferente, que eu sou muito amada e feliz.
Eu gostaria de verdade que nenhuma criança tivesse que passar por isso, que para elas paternidade não se resumisse a pensão, que os problemas dos adultos não refletissem em suas relações com os pais, que nunca duvidassem do quão importante são.
Que os adultos fossem adultos, que os pais fossem pais o tempo todo, que abandono não fosse uma opção, que visita não fosse uma obrigação. Que filho fosse prioridade, sempre.
Que a única preocupação das crianças fosse serem o que são, crianças.
Stefânia Acioli
@tevejomae