O que você entende por “amor e cuidado de mãe?” Eu entendo como um amor que é nutrido todos os dias, incondicionalmente. Eu amo minha filha independente do que ela fizer. Posso não concordar, mas eu amo. Eu entendo como um cuidado atemporal. Eu cuidarei da minha filha do dia que ela nascer, ao dia que eu partir. Quando a gente para de se preocupar? Nunca. Mesmo casados, fora de casa, a qualquer momento eu estou disposta a cuidar, de perto ou de longe, mas eu cuido. Para isso, em diversos momento terei que me deixar de lado, pesa e mesmo assim o faço. E mesmo depois de tanto, não espero algo em troca, ou que ela cuide mim.
“Minha ex mulher foi mais que isso, foi uma mãe também...” Quando concordamos com essa fala, estamos deixando a mulher sempre nesse lugar de cuidado dos filhos, dos pais, do parceiro. Cuidado de um adulto, que deveria ser responsável pela sua vida, suas escolhas, pelo seu comportamento, pelas tarefas domésticas, pelos filhos, sem que o pretexto para não sê-lo seja o fato de ser homem. “Porque homem é assim, ou você aceita ou vai morrer sozinha”.
Além disso, ela ocupa um lugar de conserto. “Se não fosse ela...”. Ela precisa consertar esse parceiro, caso contrário esse casamento acaba e a culpada quem será?
Desde os primórdios a mulher foi feita para servir, cuidar. A primeira mulher foi feita do homem para o homem. Quando resolveu fazer algo por conta própria foi castigada e acusada de destruir o próprio casamento. Não é por isso que dói tanto parir nossos filhos?
Esse papel de cuidado que se acredita ser inerente às mulheres e instintivo, também é responsável pela menor quantidade de mulheres no mercado de trabalho, porque o parceiro não pode parar, o papel de provimento é dele. Quando pesa na balança o quanto receberá em um emprego, a falta de rede de apoio e o quanto terá que pagar em creche, já que não há política pública efetiva, creche de qualidade e em quantidade suficientes, além de alguém para cuidar do trabalho doméstico, caso não queira estender esse trabalho em algumas horas diárias, a conta não fecha.
Homens passam 11h a menos que as mulheres realizando trabalho doméstico e de cuidado semanalmente. “Além de trazer dinheiro pra casa ainda tenho que ser pai e cuidar dos meus filhos?”. Ele ainda vai chegar em casa e perguntar pela janta que ela não fez. Sem saber sobre vacinas, reuniões escolares, médicos, alimentação, o monitoramento diário da saúde, a lista da feira, quantas conchas de leite na quantidade certa de água na mamadeira… Esse homem segue não se responsabilizando por nada, esperando ser servido, porque aprendeu que esse lugar é da mulher e para ele é muito conveniente continuar perpetuando isso.
Voltando ao amor de mãe lá do início, cuidar do nosso parceiro(a) não é errado, contanto que se ocupe o lugar de parceria, cuidado mútuo. Imagina cuidar de um adulto, completamente funcional, consciente das suas escolhas e atitudes como uma mãe. Esse é um peso que nenhuma mulher deveria acreditar que deve carregar. Ela não nasceu para maternar marido.