Uma mãe com sua bebê nos braços. Enquanto a menina dormia bem plena, subi meu olhar um pouco e me deparei com o da mãe.
Um olhar apaixonado, de uma leoa cheirando a cria enquanto a balançava, porque mesmo depois de dormir ela não parou de ninar. De tempos em tempos ela a olhava novamente, como quem está de guarda, guarda do sono, guarda da pureza, guarda da paz, guarda da vida.
A ternura do nosso filho tem o poder incrível de fixar nossa atenção, de nos prender e nos deixar parados no tempo e no espaço. É como se ali, por um momento, o relógio desse uma trégua, a vida passasse em câmera lenta, os problemas simplesmente não mais existissem, é como se fosse eterno. E quem dera essa sensação de transcendência fosse eterna mesmo. Duas coisas que conheço têm o poder de nos fazer transcender, arte e filhos.
E o que são nossos filhos se não as mais estimadas obras de arte do mundo? Daquelas que nem os pintores mais famosos cogitariam reproduzir, daquelas que Monalisa não chega sequer aos pés. "Parecem anjinhos dormindo", parecem mesmo e nesse momento nós também viramos anjos, com asas que servem de escudo, com asas que sangram e rapidamente cicatrizam, ou não, enquanto estão no processo colocamos um curativo e seguimos, seguimos porque nossas asas deixam de nos pertencer.
Pertencer, é isso, estar ali, olhando nossa obra prima, anjo, cria, dormir, é pertencer. É fazer parte, da vida.
Stefânia Acioli