Morando no 13° andar, é possível ver a aproximação da chuva. Esses dias parei na varanda para assistir as gotas de água vindo lá do mar em nossa direção. Foi atingindo cada bairro, cada prédio, cada casa até nos atingir. A nuvem branca de água vinha sem parar, fazendo com que cada pessoa pelo caminho começasse a se proteger dela, com o guarda-chuva ou o limpador de para-brisa, fechando as janelas ou tirando as roupas estendidas no varal. Cada um foi atingido por ela de uma forma diferente. Uns achando bom porque sentiam calor, outros não gostando tanto assim porque estavam na rua, uns sem importar-se.
Comecei a lembrar de quando descobri o positivo. Assim como a chuva, na maternidade tudo parece acontecer em cadeia, a sua maneira de maternar parece ir atingindo tudo e todos á sua volta. Primeiro atinge você, mais um pouco e atinge sua família. Um pouco mais á frente atinge seus amigos e por fim atinge os desconhecidos.
Os desconhecidos começam a te dar lugar na fila, começam a parabenizar pelo bebê a caminho ou pelo que está no seu colo. Por fim eles te julgam por fazer algo de maneira diferente da que eles estão acostumados. Talvez você não devesse estar no shopping com um bebê tão pequeno.
Seus amigos começam a fazer comentários diferentes nas suas fotos, ficam felizes com a chegada de mais um para o grupo, começam a fazer planos com a criança que está a caminho, vão apertar muito, passear muito, até que ela chega. Nessa hora são atingidos pela preguiça e desinteresse, têm coisas acontecendo lá fora que são mais importantes que vocês (eu sei, já fui uma delas). Por fim eles também acabam te julgando, principalmente se não tiverem filhos. Porque eles cansam de te ouvir desabafar, não foi você que escolheu isso? Para quê falar do seu cansaço? Uma criança não deve demandar mais de você que o meu emprego de mim.
Ela atinge sua família. É mais um membro a caminho! São atingidos com felicidade, amor, afeto. Alguns entrarão de cabeça com você nessa jornada, te darão a mão e o colo quando for preciso. Te tirarão um pouco do peso das costas, te permitirão um banho ou uma refeição, uma saída de casa para espairecer talvez, sim alguns amigos encaixam-se aqui. Mas em alguns casos a diferença entre sua família e seus amigos muitas vezes fica só pela nomenclatura ou no grau de parentesco. Eles também te julgam quando você escolhe não dar doces ou fazer cama compartilhada. Marcar a cesárea ou ter um parto na banheira. Até o kit de berço eles sabem qual é o melhor. Você mãe de primeira viagem ou não, deveria aceitar e acatar conselhos e opiniões, assim eles pensam.
Até chegar em você. Você é atingida também por felicidade ou não, preocupação pode ser a da vez e está tudo bem. Uma hora você é inundada de amor por alguém que nem conheceu ainda, mas que já tem nome e um coração batendo junto com o seu. Você é tomada pela expectativa, pelos preparativos, pelas novas cores e roupinhas minúsculas. O que ninguém te conta, é que no meio desse monte de julgamentos o pior de todos é o que cresce dentro de você. Sim, você também se julga, porque com tantas opiniões talvez você não esteja fazendo o certo, talvez você esteja mesmo reclamando demais, com frescuras demais, mimando demais, dando carinho demais, maternando demais.
Talvez você esteja maternando demais, vivendo a vida do outro demais, talvez o seu erro seja querer fazer as coisas a sua maneira, no seu tempo, no seu ritmo, com o seu coração.
Assim como a chuva o seu momento de maternar de pertinho também passa, daqui a pouco eles não caberão mais no seu colo, não riscarão mais suas paredes e nem em sonho irão querer dormir na sua cama. Daqui a pouco eles não caberão mais no seu abraço, estarão colocando quadros nas próprias paredes e terão o próprio quarto, na própria casa.
Aproveita! É tempo agora. Se molha, se enxarca, o que você mais vai ter é tempo para secar-se. Esquece quem fechou as janelas, abriu o guarda-chuva, ligou o limpador de para-brisa, vive a tua chuva, a tua chuva forte feita de amor. Porque depois de todo o caos, quando você puder sentar no silêncio, fechar os olhos e sentir a brisa da chuva que passou vai dar saudade. Que essa saudade seja boa, de algo que você fez, nunca do que deixou de fazer.
Stefânia Acioli
@tevejomae