Foto: Leilianny Oliveira
“Eu te amo tanto que dói”.
Nunca entendi essa frase. Como o amor da minha mãe por mim poderia machucá-la? Se é amor, dor não deveria vir junto no pacote.
Mas eu, mãe, entendi a relação entre amor e dor. Esse amor reivindica bastante de nós.
Amar tanto dói porque muito foge do nosso controle.
Dói porque aquela pessoa se torna mais importante para nós que nós mesmas.
Amar tanto dói porque estamos conscientes, mesmo relutantes, que não somos onipotentes. Queremos, mas não podemos protegê-los de tudo.
Amar tanto dói, porque em diversos momentos nos perdemos de nós mesmas, enquanto ajudamos o outro a se encontrar no mundo.
Dói porque eles não são nossos e sabemos que, mais cedo ou mais tarde, aquele que vimos crescer, encontrará seu próprio caminho. As raízes devem ser fortes, mas não prisioneiras.
Dói porque abrimos mão do último pedaço, do protagonismo, da privacidade, do tempo, por vários anos de uma vida que insistem em nos lembrar que só temos uma. Não queremos cometer erros, porque nos ensinaram que nossos filhos não podem ter contato com a nossa humanidade.
Com seus filhos você tem que ser uma leoa todo santo dia, e como é pesado não nos darem outra opção a não ser a indestrutibilidade.
Ser humana por vezes machuca, porque queremos estar aqui para sempre, e a ideia de não estar nos dilacera.
Eu, mãe, entendi que na realidade não é o amor que dói, mas nos imaginar sem ele.
Stefânia Acioli
@tevejomae