Ela chorava deitada no banco do restaurante, enquanto eu perguntava como poderia ajudá-la, entendi que o que estava em questão era a sobremesa que não recebeu, mesmo sabendo que se não almoçou não tem.
Ela está no seu direito de reivindicação, eu entendo, de verdade. É que eu, como a mãe, que dizem precisar ter controle de tudo, o tempo todo, tive vontade de gritar. O grito doído já havia passado pela garganta e estava na boca, pronto para sair.
Para não fazê-lo, porque passaria vergonha, me virei e disse que ia embora. Ela gritou um “MAMAE!!” tão desesperado que me atingiu em cheio, quando virei de volta ela estava assustada olhando ao redor. Para não passar vergonha envergonhei minha filha. Sempre arrebenta pro lado mais fraco, já diz o ditado.
Eu odeio o fato de ter feito isso, porque sei que tipo de sentimento desperta nela. “Mas se eu me expresso minha mãe me deixa? É isso que acontece? Essa é a condição? A condição para ela continuar ao meu lado e me amar, é que eu fique calada?”. No mesmo momento eu prometi a mim mesma que nunca mais farei aquilo. Porque desconheço um sentimento pior para uma criança que sentir-se abandonada e não amada.
Crescemos e vivemos em uma sociedade onde a hierarquia importa e, sendo assim, criança não tem querer, só tem que calar a boca e fazer o quem mandam. Engula! Engula tudo, até se engasgar. Mas me obedeça sem me questionar.
Por mais que leiam isso e pensem que sou besta, que assim ela vai crescer sem limites, que no meu lugar já teria metido o tapa, eu prefiro seguir acreditando no respeito.