O mito da mulher que enlouquece ao tornar-se mãe
“Tua mulher tá doida e endoida tu né?”
Ouvi enquanto aguardava uma consulta no consultório do psiquiatra.
Levantei o rosto para ver de onde havia saído o comentário, era uma mulher, representante de medicamentos psicotrópicos, dizendo isso a um pai de RN, também representante de medicamentos psicotrópicos. E ele concordou. Concordou porque ela validou aquilo em que ele também acredita, que mulher depois que tem filho enlouquece.
Não é a privação de sono, não é a rede de apoio faltosa ou escassa, não é o turbilhão de hormônios desregulados. Não é uma mulher sendo julgada por toda e qualquer escolha.
Não é uma mulher desesperada se perguntando onde se meteu enquanto assimila todas as novidades da nova vida. Não é uma mulher tentando se reencontrar e redescobrir seu papel no mundo. Não é uma mulher se dedicando inteiramente a um outro ser enquanto o marido trabalha normalmente, encontrando pessoas, conversando e respirando outros ares, que não fedem a leite azedo, cocô e urina. Não é uma mulher tendo suas emoções reprimidas pelo discurso de que o choro dela causará danos irreversíveis no psiquismo do bebê.
É chatice. É frescura. Dá um remédio para ansiedade, é disso que ela precisa. Não é de apoio, algumas horas de sono ininterrupto, ajuda, acolhimento e paz. É de remédio.
É loucura.
Para receber prescrição de tarja preta, ser mulher é o suficiente.
O choro de uma mãe precisa parar, não por ela ou pelo bebê, mas porque é desconfortável para quem está perto.
Choro de mãe é incômodo e desagradável. Façam parar.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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