“Mas por que você gritou???” me olhou com aquele olhar que recrimina.
Porque estavam falando ao mesmo tempo, ela não parava de me chamar, mamae, mamãe,‘mamãe, mamãe!! Ele me mandava ir para um lado, rodamos para achar a fralda e a farmácia estava fechada, ela não tinha mais fralda para dormir. Saiu, o grito saiu.
“Tá, mas por que você gritou?”
Eu queria que por uma semana você trocasse de lugar comigo. Só por uma semana, você andasse com uma criança grudada em você 24h por dia.
Só por uma semana você ouvisse gritos e choros algumas vezes ao dia, todos os dias da semana.
Só por uma semana eu pudesse chegar da rua depois de trabalhar o dia inteiro fora e me trancar no banheiro por mais uma hora enquanto você lida com a criança.
Só por uma semana fosse eu a perguntar e não tomar decisões por absolutamente tudo referente á casa, á filha, ao cachorro.
Só por uma semana não fosse eu a ter que cozinhar sem gostar, arrumar brincadeiras quando não estou afim e ainda ouvir grito quando resolvo que está na hora de eu parar a brincadeira e ir cuidar de outras coisas.
Só por uma semana eu não precisasse pedir para que outra pessoa me encaixasse na agenda.
Só por uma semana. Só por uma semana eu queria trocar de papéis, depois dessa semana provavelmente não mais me perguntaria o porquê de eu ter gritado de repente.
Não me orgulho do grito, nunca me orgulho dele, mas não sinto muito em dizer que sou humana. Me desculpei com Helena e seguimos. Foi bom, eu precisava desabafar, na frente dela não foi o ideal, mas aconteceu. Acontece.
Stefânia Acioli @tevejomae