No piquenique com os amiguinhos da escola, enquanto mães aproveitavam para bater papo, espairecer e, obviamente, lanchar, escutamos a seguinte frase de uma das crianças: “aqui até mãe come…”. Mas era óbvio mesmo que nós, para além do cuidado, do servir lanche e suco, nos daríamos o luxo de comer junto?
Nossos filhos são mestres em observação, captação de palavras, ações, divergências entre as duas últimas variáveis, cobrança. Eles têm doutorado em exigir que observemos nossos comportamentos, estes que influenciam diretamente a forma como estão desenvolvendo sua visão de mundo.
O lanche das mães não é óbvio se eles não nos veem em outro lugar que não o de cuidadora, facilitadora da vida, peritas na resolução dos problemas como secar o suco derramado no pano estendido na grama.
O lanche das mães não é óbvio se eles não nos veem nos alimentando de lazer e/ou qualquer outra coisa que não de comida fria e suco morno.
O lanche das mães não é óbvio se não saímos desse lugar de servir, para estar naquele de quem é servido; seja por falta de opção ou porque somos socializadas dentro de uma estrutura que nos considera responsáveis, únicas e diretas, pela gestão da casa e do cuidado.
O lanche das mães não é óbvio, se não nos permitimos, ou não nos é permitido, sentar para um chazinho/cafezinho com bolacha no meio da tarde, até nos acostumarmos a esperar o jantar, mesmo com a fome do acúmulo de refeições por fazer, porque pela manhã foi um café, no almoço um iogurte que a criança pediu pra dividir e o lanche não deu tempo.
O lanche das mães não é óbvio, porque, estando sempre por último, às vezes nem sobra.