"Mãe, por que ele precisa de ajuda?" Helena perguntou depois que viu um rapaz pedir ajuda na porta. Vi ali mais uma oportunidade de falar com ela sobre privilégios. É nosso papel, é um trabalho diário se quisermos ter um futuro melhor com adultos mais conscientes. Ela já ouviu que é privilegiada por ter um plano de saúde, pelos brinquedos, pelo Netflix, pelos livrinhos, pela comida na mesa todos os dias. Ela sabe que nem todas as crianças têm uma vida como a dela. Que sua cor de pele já a deixa em vantagem.
Não é só ajudar financeiramente, é também reconhecer que muitas pessoas não têm as mesmas oportunidades e precisam lutar 4x mais para chegar no mesmo lugar.
Ela não fez medicina porque tinha que sustentar a casa, amava o que fazia, mas não era exatamente o que queria. Ela não fez serviço social porque tinha que ajudar nas contas. Aposentou-se concursada, mas não na função que gostaria. Essas são minhas mães.
Eu sempre em escolas particulares. Nunca precisei trabalhar para botar comida na mesa durante o período escolar. Aos 15, os EUA, ao passa na Universidade Estadual aos 18, um carro. Tudo presente. Se eu considerava isso uma vantagem? Sim, considerava, mas não na profundidade que considero e enxergo hoje.
Por pouco não fui eu assistindo aula online enquanto trabalhava em meio a uma pandemia. Por pouco não fui eu, passando dificuldades por um prato de comida.
Como diz Flávia Biroli, "por estarem numa condição vantajosa dada previamente, algumas pessoas podem agir como se não se tratasse de uma vantagem". Biroli (2018), posição 759.
Você reconhece os seus privilégios?
Reconhece as lutas desiguais das minorias? Ou ainda as romantiza? Ou ainda acredita em meritocracia? Quem quer faz, se não passou é porque não estudou ou se empenhou o suficiente, é isso? Olha que lindo, aquele que faz entregas a pé. Mais lindo ainda, o deficiente visual que vende vassouras, já caiu em buracos e foi mordido por cachorros na rua. O velhinho, que aos 80 anos, vende queijinho na praia. Aaaa as histórias de superação que romantizam as dificuldades de quem não tem escolha ou apoio de quem deveria e já nasce em desvantagem.
Quantos passos a frente você nasceu?
Stefânia Acioli @tevejomae