Adele escancara toda a sua vulnerabilidade materna e a culpa que sente por ter se divorciado, para procurar a própria felicidade. Ela sente que por conta das suas escolhas, o filho, Angelo, também sente-se perdido. Enfrenta grande dificuldade por não conseguir explicar certos questionamentos de uma criança que está tentando entender essa mudança na vida da família, na rotina.
Por não se reconhecer mais em seus papeis, em diversos momentos não consegue estar presente para além do físico e percebe que o filho também está tendo dificuldade em enxergá-la como a mãe que ele conhece, Angelo é o único que consegue puxá-la de volta para a realidade. Mais uma vez ela se sente a pior mãe do mundo.
Trecho da entrevista: “Ele disse na minha cara: Você pode me ver? E eu fiquei tipo, Uh, sim. E ele ficou tipo, Porque eu não posso te ver. Bem, toda a minha vida desmoronou naquele momento. Ele sabia que eu não estava lá.”
É como se a culpa inteira pelo que o filho está tendo que sentir e viver com o divórcio dos pais, caísse completamente em cima dela, como se o pai não tivesse que ser considerado. É isso que a sociedade patriarcal cobra de nós, que nos responsabilizemos sozinhas pelos nossos filhos, pelo cuidado com seu emocional.
Grande parte de sua culpa se dá pelo fato de não conseguir dar ao filho a família “estruturada” que ela mesma não teve, já que seus pais se separaram quando ela era muito pequena. Ao mesmo tempo, ela teme que as suas dores do passado sejam sentidas na mesma intensidade pelo filho de 9 anos, como se ele não tivesse outra forma de vivenciar esse processo, que seja diferente da forma como ela viveu. Porém, é importante lembrar que ele, não necessariamente, viverá e sentirá como a mãe. É preciso levar em consideração em que contexto, como se deu essa separação, como ficou a relação entre esses pais após o divórcio, como essa criança foi acolhida.
Ela deixa seus sentimentos claros para o filho, de uma maneira que ele consiga elaborar, como uma forma de dizer “Mamãe está tentando se encontrar novamente, está difícil, mas a culpa não é sua”.
Trecho da entrevista: “Se eu conseguir chegar ao motivo da minha saída, que foi a busca da minha própria felicidade, mesmo que isso tenha deixado Ângelo muito infeliz – se eu conseguir encontrar felicidade e ele me ver nessa felicidade, então talvez eu consiga me perdoar por isso.”