Proibido criança!
Recebi um convite de casamento e fiquei super empolgada, afinal há muito não era convidada para algum evento. Ao abri-lo fiquei confusa, só constavam 2 individuais. Tudo bem, talvez criança nem precise de convite.
No final estava escrito que a festa de casamento era só para adultos. Ali eu entendi que minha filha não era bem-vinda.
É o buffet, fica caro sabe, pode-se convidar 200 adultos, uma decoração caríssima, uma estrutura maravilhosa, encomendar os melhores bem-casados da cidade, mas crianças não, porque elas farão extrapolar o orçamento. Além disso, são barulhentas, correm demais, incomodam. Os adultos bêbados inconvenientes tudo bem, criança em sua essência não.
Sabe, talvez eu nem a levasse, para curtir sem preocupações, mas seria interessante se pudesse ser uma escolha nossa.
Esse casal não tem filhos, não entendem que nossas crianças (e nós, suas mães) já são excluídas normalmente, porque praticamente nenhum lugar “é lugar de criança”. Eles não entendam o planejamento para mobilizar uma rede de apoio, necessária quando se quer deixar uma criança. “Quem quer sair sem filho sai”, eles não entendem que não é assim que funciona, não para a maior parte de nós.
Eles não entendam que a nossa criança não é algo que se pode deixar de lado, como aquela médica lá fez ao deixar um menino chorando do lado de fora do consultório e fez a mãe escolher entre ele e a consulta.
“Seu filho ou seu lazer”, mas não podemos ter os dois?
Talvez eles não entendam que onde não cabe nossa filha, não tem espaço pra nós. Não nos convide para seu evento, mas não exclua um membro tão importante da nossa família. Porque ao excluí-la nos exclui. Porque ela existe, é real e visível, se não para eles, para nós. E ao invisibilizá-la, fazem o mesmo conosco.
Talvez, se um dia eles tiverem uma criança nos braços, entendam o que é tentarem apagá-la. Talvez, se um dia tiverem filho, entendam que meu incômodo é legítimo e não façam piada com isso.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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