Nossos próprios medos
Eu sempre tive medo de barata. Quando pequena, não ia ao banheiro sozinha a noite, passava direto e ia chamar minha mãe de madrugada, quando ela olhava tudo e dizia que não havia barata alguma, eu me sentia segura para entrar. Desde que me entendo por gente é assim. Hoje ficou mais o nojo, consigo não surtar se uma chega perto, mas ainda é um inseto que eu não suporto, sinto o cheiro de longe. Por que estou contando isso? Você já vai saber.
Helena não gosta de bichos muito pequenos. Eu não entendo porquê ela sempre acha que o tal bichinho irá morde-la. Formiga, aranha, lagartixa, besouro, qualquer coisa, ela tem muito receio, tenho o máximo de cuidado com o que falo para ela, porque sei do poder das palavras.
Mas Helena não suporta baratas. Sempre que aparece na casa da avó ela chama a Meg, nossa salsichinha, para pegar. Meg é uma caçadora nata, não descansa enquanto não acha e mata, é da raça. Mas voltando, há uma semana quando fui dar banho no quintal da avó, estava escuro e ela abaixou para pegar algo no chão, na hora eu olhei e disse "Filha não! É uma barata!". Ela chorou muito, se agarrou no meu pescoço e desde então ela não quer tomar banho na casa da avó.
Por que ela desenvolveu esse medo de barata? Volta lá no início e você vai entender. Foi um medo meu, que de alguma forma passei para ela. É claro que ela não nasceu entendendo que barata faz mal, nem a aranha, ela aprendeu que é assim. Fiquei pensando, quantos dos nossos próprios medos nossos filhos refletem? Quantos dos nossos receios nossos filhos carregam sem ao menos saber do que se trata? Ela nem imagina que a barata tem mais medo dela que o contrario. Quantas experiências eles perdem por causa dos nossos temores? Quero dizer, uma coisa é o nosso medo do perigo, outra coisa é uma barata.
Lá vem ela me ensinando mais uma vez que são duas pessoas diferentes e meus medos não são os dela. Lá vou eu lembrando mais uma vez do poder que tenho nas mãos.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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