Mulheres multifunções
Perdi as contas de quantas vezes ouvi um "Neymar e a seleção brasileira" durante essa copa, e bem antes dela. Um homem de 26 anos leva uma nação nas costas como se fosse o único responsável pelo êxito dela no esporte. Ele não é o único, outros jogadores também passaram ou passam pelo mesmo, e caso algo não saia como esperado é o único responsável. No segundo jogo ele chorou, acredito que de alívio depois de fazer o primeiro gol, porque depois de tanta crítica, finalmente ele tinha conseguido mostrar do que era capaz. O quanto isso se assemelha á tua vida?
Mulheres maravilhas, é o que esperam que sejamos. Cada uma de nós carrega uma nação nas costas, uma seleção de uma pessoa só. Como se não bastassem todas as atribuições, o peso da educação dos filhos cai sobre nós como se eles fossem só e exclusivamente nossa responsabilidade. Mesmo que a gente jogue como o melhor do mundo, mesmo que façamos além do que conseguimos, nunca parece suficiente. Tem um mundo na casa de cada uma, se você é dona de casa é cobrada a trabalhar fora, se você trabalha fora é cobrada a estar mais em casa. Tenho a impressão também de que entramos em uma certa competição, você só ganha uma medalha se fizer tudo ao mesmo tempo, como você nunca conseguirá, nunca ganhará a tal medalha, ela não existe, não para nós. É assim que vivemos, com as costas carregadas, levando um dia de cada vez, sobrevivendo sem viver, tentando ser o que não somos nem precisamos, na tentativa de mostrar aos críticos de plantão que merecemos muito mais que um "não faz mais que obrigação".
E quando aquela pena para em cima da pilha nas costas a gente cai, a gente chora, se culpa, no final junta tudo novamente e segue, na solidão da nossa alma sobrecarregada. Mas não se engane, independente do que nos impõem, essa multifuncionalidade não é obrigação sua, nem minha!
Stefânia Acioli
@tevejomae
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