A real sobre a maternidade
Eu queria ter ouvido que seria solitário. Que me sentiria sozinha mesmo na presença do meu bebê.
Eu queria ter ouvido que a minha relação com minha mãe mudaria depois que eu me tornasse mãe. Que eu poderia me afastar dela, não fisicamente, mas como filha, mesmo conversando com ela todos os dias.Eu queria ter ouvido que seria mais julgada do que imaginei por não voltar ao mercado de trabalho tão cedo. E que seria igualmente julgada de tivesse optado pelo contrário.
Eu queria ter ouvido que o trabalho doméstico repetitivo cansa muito mais psicologicamente que fisicamente.
Eu queria ter ouvido que o início poderia ser muito difícil com meu marido.
Eu queria ter ouvido que não tem nada de errado em não ter disposição sempre para sentar e brincar, ou correr pela casa com uma criança nas costas.
Eu queria ter ouvido que ninar uma criança por tanto tempo vicia nossa postura. Que em vários momentos estaria balançando com os braços vazios.
Eu queria ter ouvido que o quarto não precisava ser meticulosamente decorado, como o dela mesma não foi.
Eu queria ter ouvido que teria tanto medo de morrer e de perdê-la.
Eu queria ter ouvido que mesmo estudando, vendo vídeos, relatos e tendo muito leite, a amamentação poderia não ser uma realidade para mim.
Eu queria ter ouvido se eu não trabalhasse a minha insegurança, palpites minariam minhas decisões e calariam minha voz.
Eu queria ter ouvido que o meu estado vulnerável poderia calar minha voz.
Eu queria ter ouvido que o cansaço mental seria tão grande, mas tão grande a ponto de me fazer chorar.
Eu queria ter ouvido que a culpa faria residência sempre que eu desse uma brecha, por menor que fosse, e faria o papel dela muitíssimo bem, ao me fazer sentir que sou uma péssima mãe.
Eu só ouvi que amaria com todas as forças, que ela seria minha prioridade, que sentiria falta da barriga, que ela me completaria, que o sorrisinho apagaria meu cansaço. Não deixa de ser verdade, mas cá entre nós, nem sempre o sorrisinho tem esse poder.
Eu queria ter ouvido que por vezes ela me perguntaria "mamãe você está feliz?" e eu teria que responder que, naquele momento, não. E que isso também faz parte.
@tevejomae
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