Minha filha transbordou
Foi um copo com água. Mas não tinha gelada. Mas não era aquele copo.
Quando recebeu jogou no chão. Ela mesma estava sentada no chão. Sinal de alerta, algo ali estava fora do lugar. Dei espaço, em meio aos gritos que me mandavam pegar o copo que ela jogou e já havia sido colocado em cima da mesa. Aproximei, expliquei que não ia pegar já que ela mesma poderia fazer, falei que ela estava muito cansada, que ia ficar tudo bem. Eu sabia que aquele copo estava cheio. Ela transbordou.
Gritos, chutes na mesa, empurrão de cadeira, choro, soluço, a chupeta jogada bem longe, tudo isso deitada no chão, enquanto eu estava sentada ao seu lado, também no chão. Um bom tempo depois ela encontrou meu colo, o mesmo que havia negado minutos antes. Repousou a cabeça e em meio aos seus soluços o meu copo também transbordou. Chorei junto, senti as lágrimas rolarem e caírem na minha perna. Repeti que a amo, que ficaremos bem.
Foi um copo, cheio de frustração, incerteza, sobrecarga, medo, cansaço, ansiedade, saudade. Um copo cheio de saudade da família, da rotina, dos amigos. Não estou conseguindo ser a minha melhor versão nesse momento, mas quem está? Quem não sente vontade de gritar, chutar, empurrar?
Transbordamos, mas sentindo o alívio de ter uma á outra, um colo mútuo. Em um momento eu sou o ponto de equilíbrio dela, em outros ela é o meu e em momentos como ontem, nos reequilibramos juntas.
Seguimos.
Stefânia Acioli @tevejomae
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