As crianças como mini adultos
Até mais ou menos o século XVII, a criança era vista como um mini adulto, em certo momento ela passava a integrar o círculo de convívio dos pais e deveria se comportar como um adulto de fato. Aos poucos esse olhar sobre a criança foi mudando, de forma lenta, mas foi mudando. Já estamos no século XXI e continuamos com aquela mesma concepção de outras eras.
Ainda pedem deles uma maturidade que nem nós temos, ainda querem criar filhos que não questionam, sem o menor senso crítico, conhecedores apenas do obedecer.
Lugar de criança é apenas dentro de casa ou no parquinho, e quanto mais longe estiverem melhor. No final, lugar de criança é em lugar nenhum. A sociedade ainda insiste em não as encarar como parte da sua responsabilidade social. No final querem adultos muito bem resolvidos.
É difícil estar do lado de cá, os olhares são bem reprovadores. Em certos momentos você pensa em pedir a conta mais cedo, em outros você cogita nem sair de casa. Restaurante só se tiver parquinho. Se o choro vem, tentamos a todo custo calar emoções, frustrações, crianças não podem lidar com o tédio, é quase um "pelo amor de Deus cala a boca que está todo mundo olhando". Quantas vezes tu já ouviu ou disse "esse menino me fez passar uma vergonha..."? Até que consigamos nos desvencilhar desses olhares, a culpa é certa em bater na gente. Nos sentimos inadequadas(os) em qualquer lugar.
Do outro lado, o que vem é "aaa se fosse meu filho, mas que mãe mais permissiva", a mãe só, porque o pai mais uma vez nem na história aparece. Hoje eu encaro essas pessoas como crianças que tentaram gritar e foram caladas, não foram acolhidas, tampouco sabem reconhecer os próprios sentimentos.
Se o choro de uma criança para você é um anticoncepcional, eu te digo, realmente não tenha filhos.
Que as crianças passem a ser enxergadas como crianças, em desenvolvimento, lutando todos os dias para entender o lugar no mundo a que pertencem. Temos um longo caminho pela frente.
Stefania Acioli
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