A menina deusa
No caixa do supermercado, quando escuto "NÃO VÓ, EU VOU DESCER DESSE CARRINHO, VOCÊ NÃO ESTÁ ME OBEDECENDO", sim, foi aos gritos. Eu tive que me virar para olhar, o impulso foi mais forte que eu, e eis que vejo a avó calada voltando para fazer exatamente o que o neto queria e como queria. No mesmo momento lembrei da Márcia Neder que fala sobre essa infantolatria.
Percebo que de uns tempos pra cá as crianças viraram uma espécie de Deus vivo em nossas casas. Helena é tratada assim pela minha mãe, só falta ser colocada em um pedestal, recebe o que quer, como quer, na hora que quer. As vezes a avó até exagera e dá o que não pode porque a netinha querida, amada e idolatrada pediu. Em casa já não funciona assim, sou muito paciente e tolerante, abraço quando tem que abraçar, mas deixo chorar porque não tenho medo da frustração. Eu percebo os valores se invertendo, hoje os pais obedecem aos filhos e as figuras paternas e maternas que as crianças precisam ficam onde?
Eu acredito que é na gente que eles se espelham para seguir uma direção, para aprender valores, certo e errado, aprender sobre respeito, e que tipo de espelho eles encontram em casa? Acho o abraço e o afago importantes na hora do choro, quando eles têm o propósito de ensiná-los a lidar com as frustrações, mas não como um meio de atender aos pedidos e de acabar com as birras de forma desenfreada. Criança precisa de limites, não é boneco de porcelana, não é Deus grego, mesmo que amemos tanto a ponto de doer ver a lágrima escorrer, mas eles precisam aprender a lidar com isso. Temos a tendência de subestimar a capacidade dos pequenos de adaptação, eu percebo como é fácil para Helena se jogar no chão quando não é atendida, sabendo que assim ganhará o que quer da avó, e como é difícil para ela entender que não é necessário chorar ou gritar quando quer descer da cadeirinha, por exemplo.
É tudo questão de paciência para ensinar, porque até isso eles aprendem conosco, a serem pacientes. "Mas ela é tão pequena, não entende", e nem vai, se eu não continuar tentando e repetindo as mil vezes necessárias.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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