"Se eu ficar em casa amanhã, fico em depressão..."
Eu escrevi exatamente isso no Facebook em 2012, sem saber que 2 anos depois eu seria diagnosticada com uma doença que não conhecia de verdade.
Por aqui o diagnóstico veio aos 21, estou em tratamento há 4 anos. Quando eu comecei a finalmente me sentir bem, veio Helena e a depressão pós-parto me pegou de jeito. Você sabe o que é depressão? "Sentimento ruim", "Falta de fé", "Vitimismo", "Ingratidão", "Tristeza"? Depressão é doença. Doença mesmo, uma das mais incapacitantes do mundo. Não escolhe idade, cor, raça, religião, nada, ela não faz distinção. Ela maximiza e minimiza, sensações negativas e expectativa, respectivamente
Hoje, todas as vezes que eu escuto uma brincadeira do tipo "Meu Deus, vou ficar depressiva se ficar em casa", "Vou entrar em depressão se minha série acabar", me dói um pouco na alma, lá no fundo. Mas eu entendo, eu precisei ter para saber a profundidade da doença e eu desejo que a pessoa não a tenha de verdade.
Cinza, é a cor que você enxerga. Expectativa de futuro, você não tem. Nada te anima, teus projetos ficam pela metade, o emprego talvez você nem continue nele. Incrivelmente o resto das pessoas não para junto e você se vê sozinho. Sozinho no meio de uma multidão, sozinho enquanto conversa com alguém, sozinho enquanto recebe uma visita. Lá dentro você está só. Mesmo que não aparente, você está só.
A gente aprende a disfarçar, aliás, é o que mais fazemos. Disfarçados, camuflados por trás de um sorriso, um óculos escuros, saímos de casa, brincamos com as crianças, conversamos com os amigos. A gente aprende a não falar, mais uma vez camuflados pelo "está tudo bem", afinal quem quer escutar? Quem quer escutar lamentações, problemas? Quem que carregar seu peso junto? Quem quer escutar o vitimismo, o mimimi, a lamúria de um depressivo?
Se eu soubesse naquela época que depressão é tudo o que eu descrevi e muito mais, eu juro que não teria brincado. Eu gostaria que ela não estivesse nas minhas brincadeiras, eu gostaria que ela não estivesse na minha vida.
Cuidado com as palavras, precisamos ter cuidado com as palavras! Se você não brinca com doença grave, você não brinca com depressão.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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