A capacidade de perceber o outro
Está todo mundo chocado com a tragédia de Suzano. Todos procuram um motivo, e eu vou te dizer qual é, pelo menos um deles. Recebi um texto dizendo que tudo isso era a falta da hierarquia , autoridade, do tipo pai para filho e professor para aluno, mas não será essa tal hierarquia um dos motivos para o ocorrido? No texto também dizia que parte da culpa é a lei da palmada, será? Eu vou te explicar, deixando bem claro que esse aqui é o meu ponto de vista, não estou julgando os pais ou familiares desses jovens, inclusive do mesmo modo que eu não posso mensurar a dor das pessoas que perderam entes queridos, eu não posso mensurar a dor dos pais dos jovens.
Nós perdemos a capacidade de enxergar o outro. Simples assim. Nós vemos o que queremos ver, ouvimos o que queremos ouvir, percebemos o que queremos perceber. Quando soube do ocorrido, a primeira coisa que me perguntei foi, mas eles não deram sinais? Se uma criança chora, se joga no chão, grita e berra, enxergamos a birra, a malcriação, manipulação. Perdemos a oportunidade de parar e observar, o que há por trás disso?
Se um adolescente se tranca no quarto, se fecha para o mundo, torna-se agressivo, enxergamos única e exclusivamente a rebeldia, a falta de educação, o "mimimi", a falta de limites. Tudo isso sob a nossa perspectiva de pais, educadores e está enraizado na nossa cultura, eu sou maior que meu filho. Nossas respostas são rasas "porquê sim, porquê é assim, ponto". Uma palmada resolve, será mesmo?
Mais uma tragédia para nos alertar, precisamos cuidar da saúde mental dos nossos filhos!! Primeiro a nossa, depois a deles, só estarão bem se estivermos bem. Temos que parar mais, enxergar mais o outro, seja criança, adolescente ou adulto, precisamos para ontem recuperar a nossa capacidade de observação. Empatia. Precisamos ouvir mais! Imagina levar um tapa por fazer algo que você ainda nem sabe que é errado, imagina levar mais um por chorar de frustração, imagina você hoje ir reclamar seus direitos e receber um "é assim e ponto, aceite". Entendeu o que eu quero dizer?
Se queremos ser vistos, ouvidos e percebidos, precisamos ver, ouvir e perceber, sob uma nova perspectiva.
Stefânia Acioli
@tevejomae
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