O pai dela também estava lá
Na emergência com Helena, entramos para a triagem, meu marido sentou ao lado da enfermeira com ela no colo, fiquei em pé. "Mãezinha qual a queixa?"
"Mãe ela tem alergia a alguma coisa?"
"Mãe leve lá na recepção pra fazerem a fichinha dela"
Meu marido estava lá, sentado ao lado da enfermeira, mas mesmo assim ela preferia se virar e conversar apenas comigo, ele parecia não existir. Eu poderia falar aqui sobre a sociedade machista que ainda temos e de como a mãe é sempre a única e exclusiva responsável por tudo que envolve os filhos. Mas hoje não, hoje é sobre ele.
Meu marido não gostava muito da ideia de parto normal. Eu demorei a entender o porquê de ele dar preferência a uma cesárea no nascimento de Helena, comecei a imaginar o medo do desconhecido e de como ele tinha receio de nos perder, esses dias conversando com ele confirmei o que imaginava, ele realmente achava a cesárea mais segura. Era medo mesmo de perder mulher e filha.
Wagner sempre foi e é um pai, mas aquele no real sentido da palavra, pai pai mesmo, já disse isso aqui. Um pai que vem, junto comigo, se desconstruindo e reconstruindo todos os dias, que vem se livrando de pré-conceitos, mais disposto a ouvir e entender.
Ele pratica a disciplina positiva antes mesmo de saber sobre ela, respeita a filha como respeita um adulto, tem todo um cuidado com ela que dá gosto de ver. Ao contrário do que muitos achavam, Wagner faz tudo o que um pai tem que fazer e não espera um parabéns por isso. Se foi difícil conversar com a barriga, hoje a relação dele com a filha cresce e se fortalece a cada dia.
Confesso que por vezes invejo a paciência e a leveza com que ele leva a criação da nossa filha.
Mas mesmo assim as pessoas insistem em achar que ele não está lá. Se eu fui esquecida depois de mãe, ele também foi depois de pai. "O filho é da mãe", não, o filho é dos pais. Por aqui vamos crescendo todos os dias e nos livrando da não responsabilização do pai pelos filhos. Se voltar no tempo fosse possível, eu teria saído da sala e deixado ela conversar com ele, parece-me que só assim a presença dele é notada. O pai só se faz importante quando a mãe não está? Temos que mudar isso!
Stefânia Acioli
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