Os frutos da nossa criação com amor virão
"Helena, não vamos levar esse chiclete", foi o suficiente para ela achar que o mundo tinha acabado ali mesmo, dentro do supermercado. Eu poderia ter dado algo menos açucarado mas não quero que ela ache que todas as idas ao supermercado merecem algum tipo de gratificação, isso não funciona por aqui.
Esperneando, ela desceu do braço e sentou no chão do estacionamento. Lá no meio do estacionamento, dois adultos em pé olhando uma criança, que tinha acabado de ter seu pedido negado, chorar no chão. Calma Stefânia, você só precisa manter a calma. Abaixei e disse que entendia a frustração e a raiva, que também me sinto assim as vezes, mas que ela não iria pegar um doce naquele momento. Expliquei que estávamos onde os carros passavam e podíamos nos machucar. "Vamos para casa filha" e estendi os braços, que rapidamente foram preenchidos por uma criança mais calma.
Outro dia, ela não queria ir embora da casa da avó, no carro se recusou a sentar na cadeira, foi para do outro lado do banco chorando, gritando. "Helena, venha, a gente precisa sair", ouvi um "NÃO" em alto e bom som. Fechei a porta do carro e a peguei pelo outro lado, ela chorou como quem tinha sido enganada então me abraçou, estávamos no meio da rua, tentando nos entender, mais uma vez conversei com ela, reconheci seu sentimento e assim se acalmou nos meus braços. "Vamos para casa filha", sentou na cadeira e fomos embora.
Em situações como essa a primeira coisa que nos vem a mente é a vergonha. Vergonha por não conseguirmos controlar nossos filhos, vergonha porque nos foi imposto desde cedo a relação de poder, a hierarquia. Depois a raiva vem, o grito sai fácil, "faz o que eu tô mandando!". Esperamos deles a maturidade emocional que não temos, a calma que muitas vezes não temos, o comportamento aceitável para quem vê de fora. Acolher é diferente de ser permissivo, entender e conversar sem bater é diferente de ser permissivo, mesmo que tenhamos que repetir 100000x.
Sentir-se amado, saber que sentimentos têm valor, que todos têm dias difíceis e que nós, adultos, estamos aqui para ensiná-los a lidarem com isso, acredite que, mesmo que pareça não funcionar hoje, os frutos virão no futuro.
Stefânia Acioli
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