Você não é uma divindade
"Não se culpe" digo sempre por aqui. Ontem passei o dia grudada na minha filha, mas distante a ponto de, mesmo sentada ao lado dela brincando de comidinha, ouvir "mamãe brinca comigo". Isso me matou. No meio do dia mandei uma mensagem para meu marido "não vejo a hora de você chegar para ficar com ela, estou exausta". Não era fisicamente, não, era psicologicamente.
Ela dormiu no meio da massagem, as 21h. Deitei ao lado dela e fiquei pensando no quão frustrante tinha sido aquele dia. Até que meu marido entra no quarto, senta ao meu lado, pergunta como estou e eu desabo. Eu estava esgotada.
Comentei sobre as vezes em que visitei o banheiro com muitos "mães" no ar. Comentei que a bagunça da casa estava me irritando, mas que quando eu tentava dobrar uma roupa que fosse ela chegava me pedindo colo. Comentei que eu estava me sentindo culpada, uma bela de uma mãe de bosta. Comentei que eu sou apaixonada pela nossa filha, amo com todas as minhas forças e estava cansada de fazer tudo sozinha. Comentei da injustiça de precisar ser multitarefas. Da injustiça que é ter que cuidar de mim, mas só entre as necessidades do outro. Eu disse que estava pesado demais, sou louca por ela, e estava pesado demais. Falei tudo isso enquanto soluçava.
Eu não quero o título de mulher maravilha. É injusto demais o que fazem com a gente, a cobrança que nos cerca para ser uma mulher gigante enquanto somos uma mãe guerreira. Eu não quero ser uma mãe guerreira. Eu não quero essa carga nos meus ombros. Eu me desfaço desse peso que essa porcaria de sociedade patriarcal coloca sobre mim. Porque pesa!
Eu não quero essa cobrança, eu não quero passar aspirador com filha de 15,5kg no braço, eu não quero ter a obrigação de dar conta do mundo, eu não quero, não preciso, não devo abraçar o mundo! Eu não quero que a minha filha cresça achando que essa desigualdade é normal. Eu não quero terminar o dia achando que fiz nada depois de ter feito o meu melhor. Eu não quero ter que alcançar seja lá qual for o patamar idealizado para mim. Eu não sou a ideal.
Eu não quero ser uma divindade, a mãe santa. Não nasci para isso, você também não.
Autora: Stefânia Acioli @tevejomae
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